O designer Tiago Ribeiro desenvolveu uma logomarca exclusiva para a salvaguarda da capoeira na Bahia. Construir uma logomarca para a salvaguarda da capoeira na Bahia foi um desafio de expressar toda a divesidade, a tradição e a ancestralidade que existem na Capoeira da Bahia em um único símbolo, que deveria contemplar a todos, independentemente de estilos e linhagens. Deveria também expressar a diversidade de gênero e reforçar a matriz africana da capoeira. Sobretudo, deveria tentar traduzir a essência, o espírito da capoeira baiana, com sua manha, mandinga e malícia.
A pesquisa para a criação da logomarca começou com a
identificação dos elementos que não poderiam faltar: em primeiro lugar, o próprio
ser humano capoeirista, que é sua essência. Este ser humano deveria ser representado
com elementos que não caracterizassem nenhum estilo em particular, mas
puramente a capoeira. Por isso o desenho não deixa claro, por exemplo, se o
capoeirista está calçado, por isso também não aparece cordel ou outros
elementos que pudessem identificar a Angola ou a Regional. O aú, além de ser um
movimento presente em todos os estilos, também significa a inversão que a
capoeira faz, colocando o mundo de pernas para o ar, provocando novas formas de
ser e estar no mundo e ajudando a subverter a ordem social escravocrata e
racista. Para contemplar a grande presença da mulher hoje na capoeira, e
reforçar a proposta de salvaguarda da ampliação do reconhecimento de seu papel,
o ser humano capoeirista retratado é mulher. Mas a figura mantém uma
ambiguidade, pois sua compleição física não traz nem o corpo masculino muito
musculoso, nem o corpo feminino como normalmente é retratado, reforçando características
de sensualidade. É um corpo-capoeira, gingador e mandigueiro, sem estereótipos.
O cabelo afro indica um capoeirista negro. Mesmo que hoje a capoeira tenha
ganhado o mundo, sendo praticada por pessoas de todas as cores, a logomarca faz
um tributo a seus criadores e à matriz africana da capoeira.
A busca de contemplar a todos os estilos também levou à
escolha das cores da logomarca. Fugindo das cores associadas às escolas da
Angola ou da Regional (preto e amarelo, branco ou as cores das bandeiras
brasileira ou baiana), a escolha dos tons marrons simboliza a profunda
vinculação da capoeira com a natureza, sua observação e imitação de movimentos
de animais. A própria palavra capoeira, como se sabe, é também sinônimo de mato
rasteiro, e as cores aqui escolhidas expressam essa relação entre esses
significados.
Em segundo lugar, não poderia estar ausente o berimbau, instrumento
que comanda a roda e convoca a ancestralidade a se fazer presente. Mas o
berimbau tocado, e não apenas o instrumento: o detalhe de um berimbau em ação
em uma roda, que é outro elemento que foi reconhecido como patrimônio, do
Brasil e da Humanidade. A roda, nosso terceiro elemento na composição da marca,
também é retratada contornando as figuras, envolvendo a tudo e simbolizando a
roda da capoeira e do mundo.
Por fim, o maior desafio: como representar graficamente a
mandinga? A ancestralidade, as histórias dos Mestres antigos? Qual seria um
ícone do encanto da capoeira? Assim,chegou-se à ideia de trazer a história de
ninguém menos que Besouro Mangangá, personagem histórico e lenda, homem e
besouro. O ser humano capoeirista joga, dá seu aú, e ao passar pelo berimbau…
avoa! Se encanta e sai voando, escapando ileso, bala não lhe atinge, a polícia
não lhe prende. Nada detém a capoeira! Ela é um vento, uma força ancestral, que
resistiu e resistirá às mudanças, às tentativas de apropriação e descaracterização.
As Rodas e os Mestres, detentores do conhecimento ancestral, continuarão
existindo e propagando a capoeira, por gerações e gerações. Esta é a missão da
política de salvaguarda, e são estes princípios que a logomarca feita para o
Plano de Salvaguarda e o Conselho Gestor da Salvaguarda da Capoeira na Bahia
procurou expressar.